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O casal americano Dean e Jean

Esta é a tradução do relato do casal Dean e Jean Logan, residente nos EUA, desde o encontro com a SM até o desligamento. Existem muitas pessoas que, mesmo nutrindo dúvidas em relação ao dogma da Mahikari, não conseguem deixá-la devido à atração que sentem em relação à imposição da mão. Este é um depoimento que encoraja essas pessoas.
 
1. MAHIKARI – Em busca da verdade

A Mahikari foi fundada em 1959 por Yoshikazu Okada, um industrial militar japonês, que alega ter recebido revelações de Deus de um Deus mensageiro, escolhendo-o para ser o Messias (Salvador). Através da revelação, um plano de Deus relacionado ao mundo futuro teria sido entregue à ele. Ao mesmo tempo, teria recebido instruções sobre um método de purificação espiritual único, que removeria o carma negativo (pecado), as toxinas e que promoveria a cura.


A partir de 1959 esta organização se expandiu no mundo. Os kumitê (fiéis) receberam um pendente chamado omitama, que os conectaria espiritualmente com o atual líder e através do espírito do falecido Yoshikazu Okada os conectaria a Deus, tornando possível praticar a purificação espiritual «pela aplicação da luz». Os kumitê fazem pagamento mensal para manter essa conexão e lhes é ensinado que se deixar de fazer o pagamento ou deixar cair o omitama a ligação (reisen) com Deus será interrompida. Aos kumitê é ensinado também que sem o omitama não serão capazes de «aplicar a luz».
 

Ouvimos falar da Mahikari, pela primeira vez, em 1987, através de um programa especial da TV. Apesar de céticos no início, fomos fortemente atraídos pelo «método de cura» e, após assinar um termo de compromisso de fazer a oblação mensal de 25 dólares e de participar da cerimônia mensal, ingressamos na entidade em 1993, pagando 120 dólares.

Mesmo sentindo preocupação quanto ao dogma da Mahikari, à medida que os problemas de saúde foram melhorando, as desconfianças foram sendo deixadas de lado.


Certo dia, um dirigente da Mahikari nos procurou para conversarmos sobre um terreno que possuíamos em Blue Ridge Mountains na Carolina do Norte, sugerindo a criação da fazenda Yokô, desde que possuíamos um terreno fértil e assim, fomos permitidos ir ao Japão para participarmos de seminários e gohôshi no Yokô Nôen e na Grande Cerimônia de Outono no SUZA. Durante a nossa estadia no Japão tivemos a oportunidade de observar o Mahikari-tai desfilar na rua, que nos causou a impressão de ser uma parada militar do nazismo alemão, impressão esta que foi compartilhada com o grupo de que faziamos parte.


Os integrantes do grupo ficaram constrangidos dizendo «por quê fazem (esses jovens) imitar uma organização tão desagradável quanto os nazistas?» e também ficamos preocupados quando notamos o símbolo da suástica enfeitando o templo mundial. Recebemos a explicação de que «a suástica é um símbolo antigo existente desde antes do nazismo» nós deixamos a preocupação de lado e encetamos a viagem de volta.


Pretendíamos doar uma parte do terreno para a fazenda Yokô se os kumitê se interessassem e ficamos esperançosos pela vinda dos jovens do Mahikari-tai e kumitê para ajudarem nos preparativos, mas quando nos apercebemos de um certo detalhe, começamos a nos preocupar. Os kanbu e os kumitê possuidores de cargo exerciam um controle total sobre os jovens. Certa feita, quando todos nós estávamos limpando uma estrada da fazenda, convidei uma jovem «para beber água» e ela se recusou dizendo «sem a permissão de kanbu não podemos beber água nem fazer nada».

A obediência era enfatizada entre eles, sendo-lhes negado o pensamento individual. Ao presenciar algumas situações de controle como essa, sentimo-nos inseguros e resolvemos recusar a orientação da entidade relacionada à fazenda.


Esse tipo de controle mental muitas vezes chegava até à vida privada dos kumitê. Quando um casal do Dojô consultou um kanbu sobre a intenção de participar de um Encontro de Casais (fim-de-semana romântico onde os casais aprendem a arte de comunicação no matrimônio) o kanbu os orientou dizendo que não deveriam ir. Se o casal tivesse ido lá, talvez  nem tivesse se separado.

De qualquer modo, os kumitê acreditavam piamente que o kanbu era representante de Deus e que a orientação deles advinha diretamente de Deus.


A nossa dúvida aumentou quando uma colega da minha mulher Jean mostrou-lhe a Enciclopédia das Religiões do Mundo , onde dizia que Kôtama Okada havia sido seguidor de uma entidade chamada SKK, que também praticava a imposição de mão. Esse fato contradizia a revelação divina do «imponha a mão» recebida pela primeira vez em 1959, pois significava que Kôtama já havia praticado a imposição de mão muito antes dela. Segundo a enciclopédia, o fundador da SKK, Mockichi Okada, também havia recebido a revelação divina em 1926.


Resolvemos telefonar para a Regional de Johrei de Califórnia e soubemos, através de um dirigente superior, que Kôtama Okada havia pertencido à seita, como fiel de uma filial japonesa, durante alguns anos. O panfleto que recebemos naquela ocasião exibia um seguidor impondo a mão do mesmo modo que na Mahikari e o dogma também era semelhante.

Talvez pela eficácia do efeito da lavagem cerebral aplicada em nós pela entidade, durante algum tempo depois do episódio procuramos esquecê-lo, racionalizando à nossa maneira, embora aquela contradição nunca desaparecesse da nossa mente. Resolvemos manter aquela informação como um segredo só nosso, porque a entidade recomendava não ler outras publicações além das da entidade e também porque era nos dito para comunicar ao kanbu quaisquer atitudes suspeitas entre os kumitê.


Algum tempo depois tivemos a oportunidade de ler o livro «Mãos de luz – Guia para a cura através do campo energético humano» da Barbara Brennan, que respondia por que a imposição de mão produzia efeitos. Naquele momento começamos a entender que Deus havia concedido essa capacidade a todos os seres humanos e que a maioria dos grupos religiosos usava várias técnicas para conduzir à essa capacidade.

A entidade Mahikari apregoa no seminário básico, que a «luz divina» é concedida pelo Oshienushi do Japão, através do omitama e se o Oshienushi falecer, a luz não será mais fornecida.


Naquela ocasião ainda estávamos sob os efeitos do controle da mente da entidade, mas o sentimento de suspeita começou a crescer dentro de nós. Após alguns meses fomos ao Centro de Johrei de Miami e adquirimos a autobiografia de Mokichi Okada «A luz vem do Oriente» e o livro «O fundamento do paraíso» sobre o dogma, no total de 3 livros. Segundo «A luz vem do Oriente», o pendente, como o omitama, o quadro kakejiku Goshintai e o método de agricultura orgânica foram originalmente idealizados por Mokichi Okada, fundador da SKK. Os ensinamentos da SKK eram espantosamente semelhantes aos da SM e o Johrei, que recebemos, era também muito parecido com a Arte Mahikari.

Por essa época já havíamos começado a nos distanciar da entidade, mas talvez devido à intensidade da lavagem cerebral, não conseguíamos deixar a entidade definitivamente. Foi nessa época que chegou às nossas mãos o livro «Todos os homens do imperador» escrito pelo ex-kanbu superior Garry Greenwood da SM. Através da sua leitura, começamos a entender tudo, como se as peças de um quebra-cabeças fossem encaixando.

A pesquisa de Garry era algo tão completa que nenhuma questão ficou sem resposta. Infelizmente, mesmo avisando os kumitê do conteúdo do livro, não eram poucos os casos que acabavam em vão, devido ao forte controle que a entidade exercia sobre eles. Alguns liam o livro procurando por passagens para discordar ou desacreditá-lo. Provavelmente devido à lavagem cerebral recebida na entidade, não conseguiam enxergar as flagrantes contradições do dogma, focalizando apenas nas diferenças mínimas entre as próprias experiências e as de Greenwood.


Passado algum tempo após ler o livro do Greenwood, voltamos ao Centro Johrei de Miami e consultamos os kanbu da SKK sobre a nossa decisão em deixar a SM e sobre as nossas experiências recentes. Os kanbus da SKK são orientados a não falarem mal da própria entidade ou de outras entidades, mas responderam com sinceridade às nossas questões, confirmando que Yoshikazu Okada havia sido ministro de lá e que ele havia sido demitido por assédio sexual. Quando perguntamos se a Keishu Okada era amante dele na ocasião, disseram «Sim».


Quando Garry Greenwood transmitia o ensinamento na qualidade de kanbu superior da entidade, a maioria dos kumitê deve ter acreditado nele, mas é muito estranho que, quando, como ex-kanbu que se inteirou das mentiras da entidade, está estendendo a mão para ajudá-los, ninguém queira dar ouvidos. Os kumitê que não seguem o ensinamento são estigmatizados como «perturbados», mas não seria uma perturbação espiritual o fato da organização tentar controlar a vida privada do kumitê, proibindo a leitura de determinados livros, ordenando a leitura de outros e impedindo a decisão própria, sem a orientação dos kanbu? Penso que devemos buscar o caminho dentro de nós mesmos. A resposta está aí. A verdadeira religião deve ser aquela que nos ensina o fortalecimento, sem depender de nada.


Os kumitê que buscam a verdade certamente a encontrarão dentro do livro «Todos os homens do imperador» e poderão perceber a autenticidade da pesquisa realizada nele. Os livros da SKK ou o livro «Combatendo o controle da mente dos cultos» de Steve Hassan também serão úteis. Após terem feito a leitura dos livros sobre o controle da mente, leiam novamente as revelações divinas de Kôtama Okada. Ao procederem à leitura cuidadosa e investigativa, com o devido distanciamento, perceberão que a revelação faz repetidas críticas à própria existência do ser humano, ao mesmo tempo em que exerce um julgamento severo, condenando o criticismo.


Existem muitas referências negativas à sabedoria humana, valorizando-se apenas a sabedoria divina, mas quem possui a sabedoria divina? Pensem bem. Deus concedeu a nós todos a natureza divina. O fato de se pregar em toda a parte como se os kumitê da Mahikari fossem os eleitos, massageando-lhes o ego é uma estratégia usada pelos líderes dos cultos. As expressões que incitam o medo e a sensação de culpa são usadas frequentemente, mas é também uma lógica usada pelos supostos Messias, para exercer o controle dos fiéis.O texto do Goseigen está repleto de expressões cruéis e rudes, sendo a maioria sem sentido ou propensa às interpretaçôes diversas.


O que gostaríamos que as pessoas que estão amarradas à entidade pelo omitama percebessem é que ninguém tem o direito de retirar a conexão que cada um possui com Deus e que nenhum objeto do tipo omitama pode aumentar ou reduzir essa capacidade inerente. Tudo depende de nós mesmos.

Nós chegamos a impor a mão muitas vezes sem o omitama, mas as pessoas sentiam a sagrada luz. Se as pessoas acreditam que a luz é mais forte quando se porta o omitama é porque acreditam no que lhes foi ensinado na entidade, ou seja, o seu sistema de crença controla as suas vidas.

Quando a pessoa aprende a acreditar em si mesma, obterá o controle de si mesmo. As respostas e o poder estão dentro de sí mesmo.
 

A verdade e a capacidade de impor a mão estão dentro de sí. Não há necessidade de se prosternar diante do goshintai da Mahikari para entoar a oração, nem investir o precioso dinheiro conseguido com o suor do próprio rosto para manter o templo de Deus no Japão. Não é o fato de se tornar fiel de alguma entidade que nos possibilita fazer a imposição da mão. A luz de Deus é concedida a todos nós.
 

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