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Seichô-no-iê

 

 

O que é

 

A Seichô-no-ie é um movimento sectário que tem como base a «cura de doenças», «publicação de livros» e «colagem de ensinamentos existentes».

 

Foi criado por Masaharu Taniguchi, nascido em 22 de novembro de 1893, na Vila de Karasuhara, província de Hyogo, no Japão. Após interromper os estudos de cultura inglesa na Universidade Waseda, acometido de doença e pobreza, recebeu uma suposta revelação divina em dezembro de 1929, que dizia «conheça o jissô (realidade), o ser humano é filho de Deus, infinito e inesgotável, reconcilia-te com todas as coisas do Céu e da Terra».

 

Com base na revelação, Taniguchi publica a revista « Seichô-no-ie» em março do ano seguinte.

 

Na Seichô-no-ie o seu chefe é chamado Sôsai (presidente), que atualmente é o neto do fundador, Masanobu Taniguchi. Após a mudança do nome da revista para «Seimei no Jissô» (realidade da vida) em 1932, a entidade desenvolveu-se rapidamente, contando atualmente com cerca de 1 milhão, 913 mil adeptos, incluindo-se os do exterior.

 

Apesar de ter sido conhecida sob o nome de «Kyôka dantai Seichô-no-ie(Associação para iluminação Seichô-no-ie )» por volta de 1935, tornou-se entidade religiosa em 1952 e em 1957 passou a se denominar Seichô-no-ie.

 

O objeto da veneração da Seichô-no-ie é a Grande Vida do Universo ou o Deus Pai (Uchû Dai Seimei, Mioya no Kami)e o Deus auxiliar Seichô-no-ie Ohokami (Grande Deus Seichô-no-ie), mas as preces são dirigidas para o kakejiku (quadro-rôlo que é pendurado na parede) onde está escrito «Jissô».

 

Os ensinamentos estão condensados nos livros «Seimei no Jissô(Verdade da vida)», «Seikôroku(Luz Sagrada)», «Kanro no Hoô(Chuva de Néctar)», entre outros. Além deles, são publicadas mensalmente as revistas «Shirohato (Pomba Branca)», «Hikari no Izumi (Fonte de Luz)», «Risô no Sekai (Mundo ideal)», destinadas aos seguidores.

 

A sua matriz fica no bairro de Shibuya, em Tokyo, com o templo principal (Ryûgû Sumiyoshi Hongû) localizado na província de Nagasaki, em Nishisonogi-gun e o templo especial na cidade de Uji. 

 

Sua doutrina

 

Conhecida como uma religião de departamentos, a entidade faz uma verdadeira salada de doutrinas existentes, desde o Kojiki (Registro de Assuntos Antigos), Nihon Shoki (Crônicas do Japão), até Budismo e Cristianismo, incorporando filosofias ocidentais e teorias de pensadores japoneses.

 

Inicialmente adepto do Budismo, influenciado pelo ensinamento do Ômoto-kyô, Masaharu passou a seguir o Shintoísmo até conhecer a Ciência Cristã*, sendo atraído pela sua «prática de cura espiritual baseada nos ensinamentos de que a causa e o efeito são mentais e o pecado, a doença e a morte serão destruídos pela compreensão do princípio divino do ensino e prática de cura de Jesus».

 

O pilar do ensinamento da Seichô-no-ie está no Shinsôkan, Yuishin Jissô Tetsugaku e Jinrui Kômyôka Undô.

 

O Shinsôkan é uma forma de meditação Zen, incorporado do Budismo, onde se considera a matéria inexistente e o ser humano como a própria vida de Deus. Trata-se, em uma palavra, de auto-sugestão, a fim de se sentir melhor, tentar curar as doenças e se livrar até mesmo das desgraças.

 

É uma prática diária, matinal, dos seguidores da Seichô-no-ie.

 

O Yuishin Jissô Tetsugaku é uma tentativa de explicar filosoficamente a relação Deus-homem, na crença de que a grande vida do universo e do homem foram criadas por Deus e sendo o homem uma manifestação de Deus, é uma existência indestrutível, repleta de sabedoria, amor e vida infinitos, assim como de bem e virtude.  Sendo esta a verdadeira imagem do homem, é chamada de Jissô e sendo o mundo espiritual de Deus ou o mundo mental uma realidade, um jissô, somente nele existirá a Verdade.

 

Este mundo fenomênico visível não passa de reflexo da intenção do Jissô, de modo que a matéria e o corpo carnal existentes neste mundo fenomênico não existem originalmente.

 

O Jinrui Kômyôka Undô é um movimento de iluminação total da vida, eliminando a ilusão, resultante do pensamento (mente) da humanidade.

 

Esta seita talvez seja a mais eclética de todas, reverenciando as outras religiões e pregando que ao ler o ensinamento Kanro no Hoô diante do altar dos antepassados (butsudan), quaisquer preces serão atendidas.

 

Mero expediente

 

Pode-se dizer que o objetivo desta seita é a cura de doenças. As suas publicações estão repletas de relatos de curas e nelas existe a afirmação clara de que «basta a leitura do livro para ser curado de doenças». 

 

Entretanto, o que mais surpreende é relacionar esta afirmação à revelação de Deus. Se as pessoas ouvem dizer que Deus revelou que «lendo a revista Seichô-no-ie e conhecendo a verdade será possível curar doenças à distância» obviamente sentirão curiosidade e somente com isso muitos doentes começarão a se juntar.

 

Mas a cura pregada pela seita trata-se simplesmente de ignorar a existência da doença, pois a sua doutrina prega que o ser humano é filho de Deus perfeito e Deus não teria criado doenças. Como o corpo carnal não existe, a doença não pode existir e se pensa que ela existe, isso não passa de ilusão, de fantasia, de equívoco, segundo a seita. 

 

Assim sendo, o ato de pensar firmemente que o corpo carnal não existe e que a doença não existe, de praticar esse Shinsôkan, fará desaparecer a doença. A este fenômeno a seita chama de cura (ou tratamento)  metafísica. 

 

Este é o resultado do aprendizado que o seu fundador Masaharu fez no Ômoto-kyô  e Ciência Cristã sobre a cura espiritual, complementando com teorias as mais variadas do Ocidente e do Oriente, para formar uma doutrina complexa, dando a impressão de ser uma teoria mística, atrair a atenção das pessoas e vender livros. Diz-se que no Ômoto-kyô as cartas foram bastante usadas como meio de expansão. Masaharu aproveitou essa idéia para começar o negócio de publicação de livros, como meio de sustentar a família, recém-casado que era.

 

É quase certo que a cura de doenças foi um meio que ele imaginou, para incrementar a venda do livro Seichô-no-ie (posteriormente intitulado Seimei no Jissô).

 

O médico Kokyô Nakamura diz que Masaharu era um megalomaníaco e no seu livro «Meishin ni ochiiru made (Como se tornar supersticioso)» conta um episódio para prová-lo. Certa feita um jornalista famoso perguntou ao Masaharu  «É verdade que somente pela leitura do seu livro as doenças são curadas, conforme você alardeia com tanto exagêro?». Coçando a cabeça, Masaharu respondeu «Bem...aquilo não passa de expediente para vender o livro. Para vender uma grande quantidade de livro é preciso primeiro juntar muita gente. E para juntar muita gente é preciso usar de algum expediente!»

 

Não é sem razão que esta seita, que utilizou o expediente de cura de doenças para vender o livro, seja considerada religião de publicação e que foi imitada, por sua vez, pela seita «Kôfuku no Kagaku (Ciência da Felicidade), que iniciou as suas atividades inundando o mercado de publicações.

 

Reconciliação com todas as coisas

 

«Reconciliar com todas as coisas» faz parte da suposta revelação divina que Masaharu teria recebido e que se consitui em ensinamento base da seita. O teor da revelação seria:

 

«Nada que existe no céu e na terra poderá te prejudicar. Se tú foste ferido ou atingido por bactérias ou espíritos maus é prova de que não te reconciliaste com todas as coisas do céu e da terra. Deves refletir e reconciliar (Volume I do Seimei no Jissô)» . 

 

A reconciliação aqui significa considerar todas as coisas um aliado, em nenhum momento prejudicial, a fim de não ser afetado, como no relato de uma pessoa que curou a diabetes comendo doces. Quando a pessoa considera o açúcar um inimigo, este o atacará, mas se o consumir com sentimento amigável, de fraternidade, este chegará até o açúcar, que deixará de prejudicar a pessoa, que se curará da diabetes.

 

Na conceituação da reconciliação, a Seichô-no-ie chama de jissô a todas as coisas que não podem ser captadas pelos 5 sentidos e de «imaginário» ou «provisório» aos fenômenos que podem ser constatados pelos 5 sentidos, criando um misto do dogma da Ciência Cristã com o conceito do «vazio» e «temporário» do Budismo.

 

Desonestidade

 

Nos movimentos sectários emergentes a desonestidade que permeia a sua criação é algo comum. Na Seichô-no-ie, o seu criador, Masaharu Taniguchi, afirma na sua auto-biografia que não era sua intenção criar uma religião (ou seita), mas que a revista que ele escreveu para preencher o tempo, enquanto trabalhava como funcionário de uma empresa, começou a atuar como milagreira. Em outro livro ele diz que a Seichô-no-ie, em si, não começou originalmente como religião.

 

Isto quer dizer que ele não começou a pregação com o objetivo de proporcionar o bem-estar às pessoas.

Por outro lado, diz-se que a causa decisiva de ter-se tornado religião de cura tem origem no relacionamento de Masaharu com a prostituta Takao, na sua juventude.

 

Após interromper os estudos na Universidade Waseda, Masaharu obteve emprego em uma empresa de tecelagem de Osaka, ocasião em que começou a namorar a sobrinha do seu chefe, enquanto mantinha relacionamento com uma prostituta. Ao descobrir que havia contraído doença venérea, entrou em pânico pela possibilidade de ter transmitido a doença à sua namorada, chegando a sofrer colapso nervoso de tanta preocupação.

 

Desesperado para encontrar uma solução, lembrou-se dos milagres do cristianismo, indo atrás de práticas espíritas populares, a fim de descobrir um modo de curar a doença da jovem, à distância, sem que ninguém pudesse saber. Ou seja, tentou improvisar um modo de resolver o problema.

 

Pouco depois Masaharu se desentende com o chefe da fábrica e deixa a empresa, mas prossegue na sua pesquisa sobre cura espírita, coletando panfletos explicativos de curas espíritas anunciadas nos jornais e dedicando-se no estudo de sutras budistas.

Deste modo nasceu uma seita voltada à cura, motivada, nada mais nada menos, pelo desejo de se safar de uma situação constrangedora.

 

Outro detalhe que mostra a intenção nada nobre desta seita está na relação com o Inari*, ao qual Masaharu orou para que o maior número possível do livro Seichô-no-ie fosse vendido, conforme constam referências no livro Tamashii no Furusato (Terra natal do espírito), em cujo prefácio lê-se «Inari Ohokami, Deus protetor da Seichô-no-ie».

 

Por sinal que o templo especial de Uji da Seichô-no-ie foi destinado à acolhida do Deus Inari.

 

A bizarra causa das doenças

 

A seita Tenrikyô ensina que quando a pessoa não é obediente e se recusa a responder «sim» (hai, em japonês), acabará por contrair o haibyô (doença pulmonar). A seita Mahikari costuma usar esses trocadilhos também, mas a Seichô-no-ie talvez seja a campeã nesse tipo de sofisma.

 

«Se não quiser ser ferido em alguma colisão de veículos, deve eliminar de si mesmo qualquer sentimento de conflito com o semelhante ou que possa ferir os outros»

 

« A apendicite é o resultado de um sentimento de querer esfaquear o semelhante, que refletirá em si mesmo, sob forma de incisão cirúrgica»

 

Apesar de bizarra, esta forma de conceituação de doenças e desgraças atraiu muitas pessoas e enquanto Masaharu Taniguchi esteve no comando a seita gozou de muito prestígio, exercendo uma forte influência no partido Liberal Democrata japonês. 

 

Entretanto, com a sua doutrina mista, composta de fragmentos do Cristianismo, Shintoísmo, Budismo, etc. sem nenhuma originalidade e com uma prática que não passa de auto-sugestão, gradativamente vem perdendo terreno para outros movimentos sectários, que surgem a cada ano, plagiando descaradamente uns aos outros, para disputar o mercado fértil de crédulos ou iludidos.

 

 

(tradução parcial do Shinkô Shûkyô hasetsu (Demolindo as novas religiões))

 

 

*Inari Ôkami (Grande Deus Inari) é uma divindade japonesa de raposa para fertilidade, arroz, chá, sakê, agricultura, indústria, prosperidade geral e sucesso.

 

* Segundo definição do verbete Christian Science do Dicionário Webster:

"Uma religião fundada por Mary Baker Eddy em 1866 que foi organizada com o nome oficial de Igreja de Cristo, Cientista, a qual deriva dos ensinamentos das escrituras tal como compreendido por seus adeptos. Ela inclui a prática da cura espiritual baseada nos ensinamentos de que a causa e o efeito são mentais e o pecado, a doença e a morte serão destruídos pela compreensão do princípio divino do ensino e prática de cura de Jesus." 1

 

 

 

 

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