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Este relato nos prova que o suposto controle mental exercido pelas seitas só produz efeito ou dano enquanto o objeto (indivíduo) assim o permitir, pois a consciência ou intuição, que todos os seres humanos possuem, funciona como um alarme, emitindo alerta em todas as situações de risco.

Não dar ouvidos à voz da consciência ou não seguir a intuição depende de cada um, porém pode ser, na maioria dos casos, um verdadeiro divisor de águas, como diz a autora deste relato, entre a escravidão e a liberdade.  Ou entre o céu e o inferno.

 

Que esta atitude determinada da Lara possa encorajar os outros a seguirem o seu exemplo, compartilhando as suas experiências nesta homepage (envie para Norma: opencodex000@gmail.com)

 


A minha intuição estava certa
Lara

 

A minha história na Sukyo Mahikari é como tantas outras: muitos problemas e a busca por ser útil a Deus.
Fui kumitê do shô-dojo de Brasília por 10 anos e guardo péssimas lembranças. Fui kumitê de nível intermediário, mahikari-tai e sewagakari. Era muito dedicada e participava das atividades de cinco a sete dias na semana. Acumulo experiência de milhares de okiyome, maboes e makubaris, além de atividades junto ao mahikari-tai.

 

Eu era uma espécie de menina dos olhos de alguns  kanbu (orientador, dirigente)sendo que me refiro com muito carinho a alguns deles e com desprezo a outros.  Do mahikari-tai guardo lembranças ruins. Não conseguia me sentir parte daquilo, mas me submetia ao grupo por não querer atrasar o plano divino. Uma vez fiquei chocada quando, durante o maboe, ofereci okiyome a um carroceiro e sua família e terminei sendo repreendida porque nas palavras do shô-taityo «gente como eles não tinha mais salvação e estava fadada a padecer de perturbações espirituais, que poderiam por em risco quem aplicasse a luz divina nela». Sempre fui muito sensível à dor das pessoas e nunca aceitei o fato de ser desencorajada a fazer okiyome nos mais humildes.

 

Poderia contar várias experiências, mas irei direto ao ponto.

Houve dois divisores de água, que mudaram completamente o meu sentimento em relação à Mahikari :

 

1-      Shurenkai (treinamento conjunto) geral na fazenda Yôkô em SP. Foi um inferno para mim. Eu já alimentava algumas dúvidas quanto à Mahikari, mas como tinha pavor de não sobreviver ao batismo de fogo ou de não resistir à pressão da luz,terminava participando das atividades. 

Neste, que foi o meu ultimo shurenkai, inventei que havia machucado o joelho, para não ter que participar dos exercícios e treinamentos militares dos mahikari-tai. 

 

Fiquei apenas observando as atividades finais e, ao assisitir a marcha conjunta, senti um frio na espinha e decidi que preferia sucumbir ao fim do mundo a servir àquele tipo de Deus. Logo após retornar à Brasília saí do mahikari-tai. Não sentia remorso, mas ainda acreditava na luz divina e na proposta da Mahikari, de modo que continuei atuando como sewagakari. Pensei que tudo aquilo poderia ser verdadeiro e que talvez fosse falha minha não acreditar...então resolví dar mais uma chance.

 

2-      Seminário de grau intermediário. Fiz o seminário em Campinas, viajando com uma caravana composta de kumitê. Estava ansiosa, desejando saber mais sobre os mistérios divinos e assim assisti o seminário com muita concentração. Reparei que havia gente de várias localidades da América do Sul. Entretanto, à medida que a transmissão avançava, mais me decepcionava com o seu teor....simplesmente um absurdo! 

 

Naquele momento me dei conta de que havia sofrido uma lavagem cerebral, que me destituiu de todo o senso do ridículo. Aqueles ensinamentos eram totalmento sem sentido, tentando promover um amálgama de lendas nipônicas que, embora muito bonitas, não passavam de lendas. Além disso, pude observar a forma como os kumitê se tratavam, sem carinho, sem compaixão. Nada alí me pareceu verdadeiro, nem havia amor.

 

Voltei à Brasília seriamente abalada e não consegui mais ir ao dojo com a mesma fé de antes. Comecei então a pesquisar sobre a entidade na Internet e encontrei o site Mahikari Exposed (Mahikari Revelada). Como eu falo inglês, entrei em contato com os autores do site, que me contaram em detalhes tudo o que sabiam. 

 

Àquelas alturas, já com a fé totalmente destruída, li o livro do Garry Greenwood sobre a seita. Ao terminar a leitura decidi devolver o omitama. Os kanbu ainda tentaram me dissuadir da idéia, mas eu estava decidida a não fazer mais parte daquilo. Toda a verdade sobre a Mahikari havia se descortinado diante dos meus olhos. 

 

Eu não estava errada, afinal, em me sentir um peixe fora d'água! Cheguei a sentir compaixão  pelas inúmeras vidas e juventudes desperdiçadas ali. Pessoas de boa índole, mas iludidas, cegas, doentes – como eu havia sido.

 

Doze anos se passaram desde que deixei a Mahikari e as feridas se cicatrizaram. Não sofri punição de Deus Su, não adoeci e nenhum membro da minha família foi para o mundo astral. A minha vida seguiu o seu curso normal, mas tive que fazer muita terapia, por me sentir muito mal e vazia no começo, como se tivesse traído Deus. Tive depressão. Antes eu era um uma espécie de tanebito(homem-semente da civilização espiritualista) salvo, que ia quase todos os dias ao dojo e agora não era mais nada. Encarar essa realidade não foi nada fácil, mas era muito melhor do que ver o tempo passar, sentindo-me cada vez mais sugada e vampirizada.

 

Hoje sou agnóstica. Não sei mais se Deus existe ou algo assim. O que eu sei é que sou a única responsável pela minha vida e que se eu tivesse seguido a minha intuição e respondido, com sinceridade, aos inúmeros questionamentos sobre a Mahikari, que eu evitei por medo, teria saído da seita há muito mais tempo. 

 

Se você tem dúvidas, tenha a coragem de ouvir, com sinceridade, o que a sua intuição lhe diz. Você poderá se surpreender com a resposta...como eu me surpreendi.
 

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