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Quem sou

 

 

 

Conhecí a Sûkyo Mahikari em 1981, em um momento de transição da minha vida, logo após ter retornado do Japão, após 8 anos de estadia, parte dos quais como bolsista do Monbushô (Ministério da Educação), para realizar pesquisas de pós-graduação na Faculdade de Economia da Universidade de Kobe, da cidade portuária de Kobe, onde passava diariamente em frente a um Dojô da Sekai Mahikari Bunmei Kyôdan(SMBK), a caminho da universidade.

Se naquela ocasião não me interessei em conhecer a entidade, quando voltei ao Brasil e passei a morar em Belém do Pará, onde uma fervorosa seguidora e responsável pela expansão da SM no norte do país, Dna. Machiê Seki, me introduziu à Arte Mahikari, sentí que era exatamente o que eu buscava em termos de espiritualidade e logo me tornei uma gohôshi-sha(servidora) atuante, mesmo sem ser kumitê, encaminhando e orientando a nata da sociedade local.

Incentivada pela Dna. Machiê, que desde o início via em mim uma futura orientadora, não apenas pela minha dedicação, mas por ter trabalhado como intérprete e tradutora no Japão, deixei o cargo de gerente de uma cadeia de lojas de presentes, onde havia conhecido a minha omitibiki-oya (responsável pelo encaminhamento) e fui até São Paulo para assistir o seminário básico e estagiar, por um mês, no Dojô de São Joaquim, então de grau intermediário.

No período em que frequentei o Okiyome-shô na pensão da Dna. Machiê, havia lido todas as publicações em japonês e português da entidade, inclusive o Norigoto-shû(livro de orações) e o Goseigen-shû(livro das revelações divinas), de modo que, durante o seminário, pude me concentrar nos tópicos que mais me interessavam, como o processo de limpeza e o plano de Deus.

Tendo estudado e praticado alguns dos métodos mais radicais de desintoxicação da medicina oriental no Japão, não tive dificuldade em entender o conceito do processo de limpeza da Mahikari, muito mais abrangente, que compreendia a própria purificação do mundo e da humanidade, reconduzindo-a ao seu papel central na edificação da civilização ideal.

Como ex-ativista do movimento estudantil dos anos 60, tendo reivindicado nos fóruns dos grêmios universitários maior justiça e igualdade social, sentí-me gratificada por ter encontrado finalmente o meio e a ferramenta adequados para efetuar a mudança do mundo, principalmente a perspectiva de divinização em vida, entendida como a formação ou aprimoramento do caráter, elevando o ser humano a tal nível de sabedoria, percepção e compaixão, comparáveis apenas aos enviados especiais de Deus, que por si só nos conferiria a capacidade de erradicar todos os fenomenos considerados infelizes: a doença, a miséria, a guerra e os desastres, naturais ou provocados.

Mesmo a existência de energia de altíssima dimensão, chamada de luz divina, não me pareceu inverossímil, porque no Japão o princípio do Kikô ou a arte de irradiação do Ki (energia existente no universo) é amplamente difundido e praticado. A grande novidade é que, na Mahikari, essa luz tinha procedência e propósito definidos.

Se fosse conceituar, em uma única palavra, a impressão que a Arte Mahikari me causou no início, eu diria que era a condensação de todos os princípios universais, exatamente como a entidade apregoa, usando os ideogramas 真理, onde o (shin) , verdade e o  (ri), princípio, seriam, na realidade, 神理, onde o (shin) significa Deus, sagrado ou divino, dando a entender que o princípio que rege o universo nada mais é do que o princípio divino.

Embora fosse católica por batismo e tivesse conhecimento de alguns movimentos sectários japoneses, como a Seichô-no-Iê, a Perfect Liberty, a Sôka Gakkai e a Messiânica, a Sûkyô Mahikari me pareceu ser a mais lógica e completa, adequada à era atual, razão pela qual não vacilei em me devotar integralmente por 25 anos, desde o dia do meu aniversário de 35 anos, quando me tornei kumitê, até os 60 anos.

A fase de maior produtividade ou atividade da minha vida foi, assim, despendida não só na prática da arte, como na atuação como intérprete dos seminários e benkyô-kai (reuniões de estudo), tradutora e responsável pelo Departamento de Publicação da Sede da Mahikari na América Latina, palestrante e kunrensei(aqueles que recebem treinamento especial para se tornarem orientadores da entidade).

Durante o longo período de convivência diária com os dirigentes, por outro lado, nunca pude entender o comportamento inadequado de alguns deles e que ia desde o vício do tabagismo até a arrogância, que, se já seriam condenáveis nos religiosos comuns, eram, a meu ver, absolutamente inaceitáveis nos ministros de uma entidade criada diretamente por Deus, cujo propósito principal era a purificação e divinização do ser humano.

Quando esta sensação de incômodo cresceu com o passar dos anos e chegou ao ápice, conhecí o movimento Shinri=Kaminori, iniciado pelo ex-kumitê japonês, Masao Utsumi, que havia reassistido o seminário superior 20 vezes seguidos. Utsumi havia descoberto 7 erros graves cometidos por Yoshikazu Okada e seus sucessores, concernentes à interpretação e transmissão do princípio divino, desde as orações principais até o modo de aplicação do okiyome.

Ao participar das primeiras reuniões de estudo realizadas por ele, comecei a entender o motivo das falhas da entidade, não como resultado de eventuais erros de interpretação cometidos, como Utsumi alegava,mas devido à um único ato inicial cometido por Yoshikazu Okada e repetido por seus sucessores, quando decidiu mentir que o Deus Supremo, o Criador do Céu e da Terra em pessoa, o havia nomeado Messias, revelando-lhe os segredos nunca dantes revelados na história da humanidade.

Diante de uma mentira de tal dimensão, as outras mentiras referentes ao seu passado e à parceira Kôko(Keishu), embora inaceitáveis, tornam-se até irrelevantes, na medida em que as ocorrências encobertas podem ser explicadas como coisas do passado e justificadas como perdoadas por Deus.

A psicologia explica a mentira pelo mecanismo de defesa, a sociologia pela busca do poder, a filosofia pela imperfeição humana e a religião pela compulsão ao pecado e provavelmente Yoshikazu se enquadra em todos eles, mas o dano talvez não chegasse a ser tão extensivo e grave, não fosse a presunção de atribuir a Deus a autoria do seu projeto megalomaníaco, que, se por um lado, tornou-o extremamente vulnerável e insustentável à um exame mais acurado, serviu para mobilizar tantas pessoas de nível no mundo inteiro.

A origem humana e a inexistência de qualquer plano de Deus não só invalidam a luz, o omitama e o dogma mahikariano, mas a entidade em si, reduzindo-a à uma religião como tantas outras e isto explica o surgimento de mais de 10 seitas da linhagem Mahikari até agora (Shinyûgen Kyûse Mahikari Bunmei Kyôdan, Yokôshi Tomo-no-Kai, Sukyô Hikari Kyõdan, Subikari Kôha Sekai Shindan, Mahikari Seihô-no-Kai, Asuka e subdivisões), bem como a criação de outras formas de terapia,por ex-kumitê, com base na Arte Mahikari (http://ameblo.jp/ohana-tk/entry-10681157753.html).

Se a Sûkyô Mahikari não passa de mais uma religião apocalíptica, pode-se optar por deixá-la ou permanecer nela e optei por deixá-la, primeiro por não corresponder às minhas expectativas e segundo porque, graças à ela e  ao movimento Shinri=Kaminori, pude finalmente me conscientizar de uma verdade, que estava todo o tempo na minha frente.

A oferta e a procura é uma lei da economia, mas ao criar a sua religião é inegável que Yoshikazu Okada também estava atendendo à uma procura ou demanda por algo mais autêntico, prático e lógico em termos espirituais, por pessoas como eu, que, invariávelmente, iriam se tornar consumidoras ativas do seu produto ou plano, até descobrir, não só a ineficácia do produto, como também o esquema de ganho fraudulento atrás dele.

A decepção e a frustração que se seguiram à essa constatação foram de tal modo profundas, que não tive outra alternativa senão voltar-me a mim mesma, revendo as minhas próprias atitudes, crenças e valores, que, afinal, haviam me conduzido àquele destino bizarro e percebí que o maior equívoco talvez residisse no fato de acreditar que o Criador, em um repentino gesto de superproteção, tivesse resolvido conceder a arte divina de salvação a todos os mortais sofredores, como se o ser humano, o rei de toda a criação e Seu Filho necessitasse ser mimado a estas alturas.

Se o espírito possessor, segundo o princípio mahikariano, é uma espécie de esmeril e se a doença não passa de processo de limpeza, seria muito mais coerente considerar os fenômenos de infelicidade, como a doença, a pobreza, os conflitos e as desgraças como testes de proficiência no processo de aprendizado ou maturação do filho de Deus, para, ao final, tornar-se ele mesmo um ser divino. Lembro-me, inclusive, de ter traduzido, repetidas vezes, as palavras do orientador Kinno no seminário básico: «...se nós somos considerados filhos de Deus, isto significa que um dia iremos crescer, tornando-nos deuses....».

 

A Mahikari incorreu no erro de condicionar o crescimento ou divinização à purificação através da luz divina, mas essa linha de raciocínio nos faz perceber que já existem à nossa volta, seres humanos divinizados ou em pleno processo de divinização, na figura de deficientes físicos ou cidadãos comuns, que se revelam e se sobressaem na multidão de anônimos, simplesmente por terem se apercebido desse princípio, único e verdadeiro, da evolução humana.

Estas pessoas são a prova viva de que os obstáculos da vida nada mais são do que a chave para a abertura do portal da realização, como defende a Dra. Rita Levi-Montalcini, prêmio Nobel de Medicina de 1986 e defensora incansável das questões sociais, que apresenta essa sugestão em seu livro Elogio da Imperfeição. (ela faleceu no dia 30 de dezembro de 2012, com 102 anos, em plena atividade como cientista).

Ela celebrou com a Dra. Hertha Meyer, uma judia alemã que se refugiou no Brasil em 1939 e com o Prof. Carlos Chagas Filho, a demonstração de uma descoberta que avançou a ciência neural e deu-lhe o prêmio. As dificuldades que marcaram a própria vida e a da colega foram revezes que se converteram em comemoração e progresso científico.   

De Helen Keller (escritora, educadora, conferencista e ativista social, cega e surda)a  Daniel Dias( brasileiro que possui somente metade dos braços e metade de uma das pernas, ganhador de 4 medalhas  de ouro, 4 de prata e 1 de bronze, na categoria natação, na Paraolimpíada de Pequim), o que fez a diferença na vida destas pessoas foi considerar as dificuldades da vida como desafios e não como fenomenos de infelicidade, buscando, dentro de si mesmos, a capacidade para superá-los e adquirir a excelência, meta que, afinal, todos nós buscamos, mas não sabíamos como atingir.

A grande lição que extraí de tudo é a de que os sofrimentos acabam nos conduzindo à felicidade, simplesmente porque nos induzem a lutar por nós mesmos, sem recorrer à ajuda externa e nesse processo, conseguimos ativar todo o potencial que sempre existiu dentro de nós, produzindo um resultado de tal magnitude, que parece próximo do sobrenatural.

Isto ocorre, porque fomos feitos à imagem e semelhança de Deus, dotados de natureza divina, que é a capacidade infinita para fazer o bem e não o mal, competindo a cada um fazer um esforço honesto para manifestá-la, sob quaisquer circunstancias e incondicionalmente.

Do mesmo modo, o desejo de ajudar o próximo, de ser correto ou ético deve emergir naturalmente de cada um, sem a necessidade de se recorrer a crenças ou práticas místicas.

 

 

"O caráter não pode ser desenvolvido na calma e tranquilidade. Somente através da experiência de tentativas e sofrimentos a alma consegue ser fortalecida, a visão clareada, a ambição inspirada e o sucesso alcançado. (Helen Keller)

 

 

 

 

 

 

 
 
 
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