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O que é Nippon Kaigi

O Nippon Kaigi ou Conferência do Japão surgiu no início dos anos 70 de uma seita emergente de direita e de linhagem xintoísta, conhecida como Seichô-no-Iê. 

A atual seita Seichô-no-Iê não tem relação com a política, nem com o Nippon Kaigi, mas a Seichô-no-Iê criada pelo fundador Massaharu Taniguchi era conhecida como uma religião emergente com forte tendência direitista e expandiu durante a guerra, apoiando abertamente o militarismo japonês.

Em 1974, uma facção da seita uniu forças com o Nippon o Mamoru Kai (Associação de Proteção do Japão), uma organização de revitalização do xintoísmo, que pregava  o patriotismo e o retorno ao culto imperial. 

Falando em termos gerais, o xintoísmo é uma religião politeísta e animista nativa do Japão. O xintoísmo patrocinado pelo Estado antes e durante a Segunda Guerra Mundial atribuía  ao imperador o status de um deus, considerando os japoneses  uma raça divina - o Yamato.

O xintoísmo nacional de antes da guerra foi desfeito em dezembro de 1945 pelo GHQ  (autoridades de ocupação) que emitiu ao governo japonês a "diretiva shintô" para abolir o apoio estatal à religião xintô. O xintoísmo nacional foi considerado pelos aliados de guerra como tendo contribuído principalmente para fomentar a cultura nacionalista e militar do Japão que levou à Segunda Guerra Mundial. O propósito da diretriz foi ostensivamente baseado em idéias de liberdade de religião e separação da igreja e estado.

Tal medida, contudo, não foi aceita pela matriz do templo xintoísta, que desde então vem procurando restaurar o xintoísmo à sua forma original nacional, devido ter sido transformado em uma organização privada, em uma mera entidade religiosa.

Vale salientar, no entanto, que dentro do próprio xintoísmo existem pensamentos ou interpretações diferentes, que criticam a atitude do Nippon Kaigi, que afirma ser «tradição japonesa» a forte ligação que supostamente existe entre a família imperial e o povo. 

Os críticos negam essa tradição, pois na era Edo, com exceção de uma pequena parcela de intelectuais, o povo dificilmente teria tido conhecimento de que o imperador Tennô vivia em Kyôto. Além do mais, o papel tradicional do templo xintoísta é de orar a Deus pela paz e prosperidade local e somente na era Meiji, com a formação de um Estado unificado, é que o imperador teria sido elevado à categoria de símbolo nacional.

Consideram o governo Meiji um destruidor da cultura e religião, pois o xintoísmo politeísta  é incompatível com a idéia de uma «crença nacional» ou os princípios estabelecidos no Kyoiku Chokugo, de «amarrar o povo com regras e valores».

Essa distorção de pensamento teria ocorrido a partir do  momento em que as autoridades de ocupação americana desfizeram o xintoísmo nacional e os templos  xintoístas, transformados em entidades jurídicas religiosas, passaram a ser conduzidos por sacerdotes que desconheciam o xintoísmo original, acreditando ser o xintoísmo criado pelo governo Meiji, o xintoísmo tradicional, permanecendo assim já há 70 anos.

O Nippon Kaigi é atualmente dirigido por Tadae Takubo, ex-jornalista que se tornou cientista político e apesar de contar com apenas 38.000 membros exerce uma tremenda influência política, com capacidade para mobilizar certa parte da população e influenciar a política do governo, como faz atualmente, dando suporte ao primeiro-ministro Abe e ao seu gabinete, constituído, em sua maioria, pelos membros do Nippon Kaigi.

Durante o conflito conhecido como Anpo Tôsô, de 1960,  por exemplo, por solicitação indireta do primeiro-ministro Shinsuke Kishi, avô do atual primeiro-ministro Shinzo Abe, os fundadores das seitas Seichô-no-Iê  e Sekai Mahikari Bunmei Kyôdan, Masaharu Taniguchi e Yoshikazu Okada convocaram os seguidores para servirem como força auxiliar de segurança da polícia.

É considerável o número de entidades religiosas e fundações de linhagem religiosa que participam dele, como os templos shintoístas, o Reiyûkai, a Sukyo Mahikari, o Instituto Moralogia, o Ômoto-kyô, a Seichô-no-Iê, a Messiânica, a Sekai Mahikari Bunmei Kyôdan, somente para citar alguns.

Com o suposto objetivo de edificar um belo e honroso Japão, o Nippon Kaigi, contudo, se opõe fortemente à Constituição pacifista japonesa, à igualdade sexual, à permanência de estrangeiros no país e às leis de direitos humanos.

Esta aparente contradição só será compreensível quando considerarmos o fato de que, desde a derrota na II Guerra, o Japão vem sendo aproveitado (ou controlado) para atender os interesses dos globalistas (neoconservadores da CIA e de Israel) para os quais a Constituição pacifista japonesa tem sido um obstáculo para convocar o Jieitai (Força de Defesa do Japão) como suporte ao exército americano nos conflitos do Oriente Médio ou na eventualidade de um confronto com a Rússia ou China. 

O Nippon Kaigi do Brasil, por outro lado, até onde observei através da leitura do seu boletim mensal, parece não compartilhar esse pensamento ou ideologia, enunciando em suas diretrizes básicas, algo totalmente oposto, como« contribuir para a paz mundial através da cultura tradicional japonesa com seu espírito pacífico».


Resta saber se a direção do Nippon Kaigi do Brasil tem conhecimento da atividade da sua matriz  do Japão, ignora-a (o que seria estranho) ou simplesmente prefere seguir uma linha de pensamento diferente, com ênfase no estudo, preservação e divulgação dos valores morais tradicionais do Japão.
 

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