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Introdução

Luis Gonzaga da Silva Filho*​


                                        

             

O termo “religião” vem de religare (do Latim), que significa religar o Homem a Deus. O uso do termo denota a intenção primeira da prática, qual seja a de não deixar que o Homem esqueça sua origem espiritual enquanto estiver transitoriamente na dimensão material realizando obras, adquirindo conhecimentos e trilhando a senda da evolução. Desde os tempos remotos, essa prática serviu para manter o Homem ligado à sua origem, tanto que as sociedades originalmente eram teocráticas e tudo era feito e regulado segundo as leis divinas ensinadas e preservadas pelos sacerdotes e governantes, estes últimos ungidos como escolhidos para “conduzir seu povo em nome de Deus”.

Esse senso comum perdurou por muito tempo, mas não evitou que excessos e outros erros próprios da natureza humana fossem perpetrados ao longo da História. Verificou-se um agravamento progressivo desses desvios ao longo dos séculos, mas muita coisa começou a mudar com o advento do Iluminismo (no Ocidente), que “libertou o Homem das garras da Igreja”, já que esta dominava tudo e impunha até mesmo uma “ciência religiosa”. Esse importante movimento, levado a efeito na Europa a partir do Século XVII, ofereceu às pessoas uma forma mais racional de pensamento e compreensão do mundo. A partir de então, a Igreja e o pensamento religioso começaram a perder valor para os “racionais”, surgindo uma nova legião de céticos, agnósticos e ateus. Ainda hoje, as pessoas não religiosas são de certa forma herdeiras do novo pensamento trazido pelo Iluminismo, que desmistificou o que era mistificado e objeto de fixação inarredável, sob pena de censuras e punições. Muita gente passou a raciocinar e viver isenta dos condicionamentos estreitos e rigorosos da vida religiosa, o que levou ao desenvolvimento mais amplo da Ciência.

Não obstante, a religião continuou a reger a vida da maioria das pessoas, sem, no entanto, corrigir muitos erros do passado. Devido à falta de conhecimento mais aprofundado os crentes e submissos continuaram dependentes de uma teologia, de um conjunto de regras e rituais, enfim, de um arcabouço de fundamentos e procedimentos que sustentassem a sua fé no transcendental e segurança na vida moral e material. Essa necessidade foi e continua sendo o grande motor dos abusos que verificamos até hoje no mundo das religiões e seitas. Muitas teologias foram fundadas, muitas religiões, seitas, movimentos, rituais místicos e toda sorte de lenitivos indutores à “compreensão e aceitação da verdade”, submetendo os crentes a uma fidelidade que condiciona o êxito das promessas anunciadas. E aí onde reside toda a degeneração do sentido da verdadeira religião, na sua acepção original, mais ampla e profunda. Religiões e seitas, em muitos casos, dominam e prejudicam mais do que beneficiam, porquanto, via de regra, cobram um preço muito alto de seus fiéis e os aliena conforme seus escusos interesses.​​​​​​​​​​

A lealdade exigida induz o crente à presunção de verdade absoluta e arrasta multidões a preconceitos, segregações, mútuas críticas e agressões entre adversários de fé, guerras religiosas, rituais místicos e procedimentos exóticos e arriscados, doação de muito dinheiro e bens (estimulando a barganha e troca), entrega absoluta ou dedicação exacerbada que seqüestra grande parte do tempo de vida material e até mesmo o exercício profissional para devotar-se à religião ou seita, sempre dando a “certeza” de que esse é o caminho correto para a “salvação” e a entrega total ao serviço de Deus. Iludem os desavisados (ou esquecidos) que a vida material deve, sim, incluir espiritualidade, mas requer que esta seja viva na sua integralidade. Caso contrário, seríamos todos santos e alheios às tarefas próprias desta dimensão existencial.

Pelo que se pode observar ao longo da História até os dias atuais, o que tem sido mais visível nas religiões e seitas é, em suma, a promessa do alívio dos problemas da existência, com “garantias de salvação”, acenos de prosperidade, cessação de dores e conflitos, enfim, a felicidade que todos desejam, preferentemente sem muito esforço, mesmo que a um alto preço material e/ou devocional. Problemas e sofrimentos que, sabe-se, fazem parte do processo evolutivo, inclusive pelo aprendizado que resulta da nossa lide com eles.

Mas, na verdade, a orientação das religiões e seitas acaba se voltando, na prática, para a fuga dos problemas e sofrimentos, promovendo uma dependência e um aprisionamento que leva muita gente a perder a noção clara e pragmática daquilo que separa e daquilo que une a vida material à espiritual. Sendo extremamente difícil mudar a realidade, as religiões e seitas propõem mudar o sentimento pessoal, minimizando o esforço de solucionar os problemas e sofrimentos, disponibilizando, para isso, algumas técnicas, que vão desde a entoação de mantras a práticas ditas espirituais, com o propósito precípuo de justificar ou legitimar a fuga e “faturar”, explorando os incautos. Tudo isso em meio a uma submissão inarredável à hierarquia e aos “representantes de Deus”, sem a qual as graças não serão concedidas, pois a desobediência e a insubordinação são censuradas com intimidações mistificadas e outras ameaças indutoras da manutenção do status quo.

A Sukyo Mahikari (SM), seita japonesa operante em muitos países, incluindo os da América Latina, não foge a essa realidade. Suas enganosidades e sua história repleta de manobras sórdidas e ocultas, apropriações vergonhosas e inequívoca ganância por dinheiro e poder, vem iludindo muita gente por aqui, sendo um dever moral informar os que não sabem da verdade dos fatos e agem de boa-fé como membros dessa entidade, submetendo-se cegamente às suas regras e engodos.

No intuito de esclarecer os seguidores mais próximos, inclusive aqueles a quem  ajudou a encaminhar e orientar, Shinkai elaborou este documento para mostrar os meandros e subterrâneos dessa entidade, dando-se ao imenso trabalho de compilar e traduzir inúmeros textos do japonês e do inglês. Muitos dos fatos enunciados no presente documento constam do primeiro livro de denúncia da seita Mahikari “Todos os homens do imperador- uma visão interna do culto imperial Mahikari”, escrito por um ex-kanbu da Austrália, Garry A Greenwood, e também de sites da Internet, tais como:

 Mahikari Revelada

 http://members.ozemail.com.au/~skyaxe/portuguese/index.htm

After Mahikari (Após a Mahikari) (em inglês e japonês)

http://anne987.blogspot.com/2007/12/blog-post.html

Mahikari Basics (em inglês)

Ao ler preliminarmente o teor deste documento, logo percebi o nível de responsabilidade da autora, assim como sua sinceridade e empenho ao fazer um depoimento deste porte, sem qualquer intenção meramente difamatória, mas tão somente esclarecedora, decidi hipotecar o meu apoio, somando-me a ele não apenas neste prefácio, como também nos comentários que faço, com as mesmas legítimas intenções da autora.

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(*) Luis Gonzaga da Silva Filho

Administrador pós-graduado, com larga experiência profissional em gestão estratégica, gestão do conhecimento e gestão de pessoas. Kumitê de Brasília por mais de 30 anos, foi Ossuewanin Kai-Tyô, Okiyome-Shotyô, orientador leigo (instrutor/transmissor de ensinamentos) para muitos locais da Mahikari no Brasil (realizou muitas e freqüentes viagens a todas as regiões). Agente ativo e um dos líderes da expansão da Mahikari no Brasil, juntamente com a Sra. Joselice Campos. Foi durante vários anos membro do grupo responsável pelo desenvolvimento do projeto de edificação do Centro Cultural Mahikari da América Latina em Brasília, cuja sede foi projetada pelo mundialmente famoso arquiteto japonês Kenzo Tange (o projeto foi descontinuado por decisão unilateral e soberana da entidade). Atuou também como palestrante em todo o território nacional e no exterior, e como mestre de cerimônias de grandes eventos da Mahikari (shunensais e outros) durante mais de 10 anos. Foi colaborador ativo junto ao Shidobu da América Latina durante muitos anos.

 

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