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Desabafo de uma kumitê brasileira

 

 

Postado em junho de 2014

 

 

Estou escrevendo este como uma forma de desabafo, porque vivi muito anos acreditando e defendendo a Sukyo Mahikari fielmente. Assumir publicamente que tudo não passou de um grande erro, principalmente de lavagem cerebral e que a Mahikari na realidade é uma seita, foi muito difícil para mim. 

 

 

Como assumir perante a família e os amigos que foi tudo uma grande ilusão,que vivi durante anos a fio? Como assumir publicamente que algo que defendi como a"minha própria vida" é uma grande e horrível farsa, sabiamente arquitetada?

 

 

Pior: quantas pessoas eu julguei como "ignorantes, manipuladas, manifestadas e sem luz" quando tentava encaminhar? Como olhar nos olhos das pessoas e dizer que vivi anos enganada, tentando fazer com que outras pessoas fossem enganadas também? 

 

 

O sofrimento e a dor ao saber a verdade me levou ao choro, à negação, à revolta, às noites sem dormir, ao vazio e à sensação de solidão, como jamais havia sentido. 

 

 

O que mais me atormentou foi a impossibilidade de revelar no dojo toda essa maracutaia, sob o risco de ser chamada de manifestada ou manipulada por uma legião de espíritos, que supostamente visam desmantelar o forjado "Plano Divino",ou seja, esse discurso já desgastado, tentando proteger uma seita movida pelo dinheiro, onde os «verdadeiros manipulados» sequer se apercebem disso.

 

 

 Como chegar às dezenas de pessoas que encaminhei e dizer que tudo não passava de plágio, de mentira, de interesses de um grupo de pessoas? Senti-me devastada e perdida.

 

 

Em que devo acreditar agora? O que é a verdade? Porque a "Lei da Verdade" que defendi até agora era uma grande mentira!

 

 

Tenho a certeza que muitos kumite veteranos e ex-kumite, ao descobrirem a verdadeira história de Yoshikazu Okada (Kôtama) e a origem da Sukyo Mahikari sabiamente irão se afastando aos poucos, mas também muitos que devotaram as suas vidas à seita,  sem um emprego fora da Sukyo Mahikari, como os kanbu de carreira, permanecerão reproduzindo a mentira por uma questão de sobrevivência, por tão terem a possibilidade ou capacidade de se sustentarem a si mesmos e suas famílias fora da organização.  

 

 

Como no caso do dojotyo Sanches, que ao mostrar atitude de insubordinação, foi advertido de que perderia o cargo. Sem se deixar intimidar, este kanbu rebateu dizendo que, se o fizessem, não vacilaria em revelar fatos comprometedores sobre a seita, a qual imediatamente promoveu o seu filho a taityo do Mahikari-tai, para evitar o escândalo.

 

 

Inacreditável! Pelo visto, esta organização se sustenta através de um jogo de interesses, de troca de favores, onde o GA (ego) se manifesta da pior maneira.

 

 

No kunrensho sempre ouví dizer que aquele que dedica a sua vida a Deus salvará espiritualmente até 9 gerações de antepassados, dando a motivação para que a pessoa passe a se devotar, sem folgas ou feriados, renunciando a tudo, porque é um sacrifício que valeria a pena, em vista da gratificante compensação, mas hoje vejo que não passa de mais um truque para arrebanhar operários!

 

 

E o que dizer dos dirigentes que sofrem de doenças, com consequências devastadoras, como a cegueira, sem falar da desarmonia conjugal e hábitos perniciosos, como o alcoolismo do ex-shidobutyo Hideto Iwanaga, que aparecia completamente embriagado no dojo, em uma demonstração de total irresponsabilidade e descaso ao seu cargo de orientador superior de uma entidade que se diz divina, dotada de uma arte divina?

 

 

Será que a desculpa esfarrapada de existência do carma aplica-se também ao orientador superior designado diretamente pelo Oshienushi III, para conduzir a salvação espiritual, mental e física de uma região tão ampla como a América Latina?

 

 

Se é assim, não vejo nenhuma diferença entre a Sukyo Mahikari e quaisquer outras religiões e igrejas, onde a prática de pedofilia, abuso de autoridade e roubo de fiéis tornaram-se ocorrências banais. Mesmo que fosse mera religião, esta palavra não vem do latim “religare”, significando religar-se? Onde estão as ligações espirituais com Deus, para fazer do ser humano uma pessoa do bem?

 

 

Outro aspecto que muitas pessoas não tomam conhecimento é sobre a suposta recuperação espiritual dos homossexuais, pregando-se a falsa idéia de que a «luz divina» irá reajustá-los, retornando-os à condição de heterossexuais, a fim de poderem constituir família com alguém do sexo oposto e ter filhos, para se tornarem candidatos a tanebito e adentrarem no paraíso, conforme a vontade divina.

 

 

Com isto, os membros homossexuais do mahikari-tai são compelidos à dedicação, incutindo-lhes a esperança de poderem corresponder a Deus, corrigindo as suas preferências sexuais através da fervorosa prática da imposição de mão, porém se tal fosse verdade, simplesmente não existitiram filhos de kumitê, que receberam a «luz divina» desde antes do nascimento e cuja família é inteiramente devotada a Deus, que se tornaram e continuam a ser homossexuais, embora ocultem esse fato de todos. Eu, pelo menos, não conheço nenhum caso de homossexual que tenha se tornado hetero praticando a arte.

 

 

Encerro por ora este meu relato, pois ainda sinto dificuldade em lembrar de tudo que testemunhei e vivenciei dentro da seita. 

 

A lembrança de ter sido enganada é dolorosa demais. Reconheço que tive momentos de aprendizado, que poderia ter tido em qualquer outra seita ou religião. 

 

 

A imposição de mão trás alguns benefícios, mas não podemos esquecer que ela é uma prática antiga, que vem sendo adotada em numerosas outras seitas e principalmente como uma terapia alternativa, aplicada de modo sério e competente, sem falsas expectativas ou cobranças exorbitantes, como acontece nesta seita chamada Sukyo Mahikari. 

 

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