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continuação....

 

Naquele momento, ele assiste o inacreditável:


«Cinco jovens foram mortos instantaneamente em uma trágica colisão frontal fora de Canberra há poucas horas. Os primeiros relatórios vindos do local parecem indicar que eles eram membros de um culto religioso e estavam viajando de Canberra, possivelmente para Melbourne.»

«O anúncio foi acompanhado por cenas gráficas do local do acidente e os restos do que foi um carro. Imediatamente o meu telefone tocou. Era o coordenador do centro Mahikari de Melbourne.


A polícia de Melbourne acabou de visitar os pais de um dos nossos membros que foi à Canberra hoje. Eles disseram que ele foi morto em um acidente de carro à caminho de casa. Como estão os outros quatro? Você consegue descobrir para mim? Eu acho que cinco membros estavam todos viajando juntos, três de Melbourne, um de Hobart e um de Canberra!».

«Um por um, o sargento de polícia, que me acompanhava no morgue pequeno e agora lotado da cidade pequena do interior, próximo do local do acidente, puxou os lençóis brancos.

Debaixo de cada um estava o corpo mutilado e esmagado dos membros de elite do Mahikari-tai de Deus».

«"Como ? por quê?" eu me perguntei. "Não eram eles os homens-sementes eleitos de Deus, abençoados com uma super proteção? É este os seus tempos dos céus para acabarem assim?"


« Eu tinha conhecido cada um deles pessoalmente e os amava muito.

Eu sabia agora que não podia e não iria simplesmente aceitar outra interpretação espiritual a respeito do porque eles tiveram que se defrontar com esse fim trágico e eu sabia que seria apenas uma questão de tempo antes de tal edital espiritual ser anunciado.
 
Eu sabia que, em breve, um seria selecionado entre um número cada vez maior de escolhas, como sempre ocorreu no passado. Envolvimento em atividades sexuais erradas, abuso de drogas, serviços inadequados para Deus, sacrificados por causa da falta da sinceridade geral dos membros e assim por diante, sendo típicos dos que eu sabia e que logo estariam na breve lista espiritual».

«Muitos anos atrás eu tinha vendido a minha alma para Keishu e agora eu a queria de volta.

Uma vez mais eu queria ser o responsável por minhas próprias ações e decisões. Minha mente e alma tinham sido saturados com o espírito Mahikari e agora eu os queria exorcizados - limpos. Eu queria tentar pensar por mim mesmo novamente como um indivíduo.

A prática de pensar e de viver como um corpo desprovido de qualquer personalidade começou a fazer-me sentir doente. Eu ansiava por ser colocado de volta ao modo como eu era antes de me juntar à Mahikari».

​Embora inacreditáveis dentro do contexto Mahikari, casos como estes são apenas a ponta do iceberg no amplo quadro de doenças, acidentes, mortes, infrações, ocultações, roubos, etc. que ocorrem dentro da entidade. 

 

Quando eu servia no shidô-bu, como kunrensei da 1ª turma de kunrensei da América Latina, aguardando a ida para o Shinga-dai, no Japão, a fim de concluir o treinamento, um jovem kunrensei da turma seguinte cometeu suicídio nas dependências do kunren-sho, que ficava próximo ao edifício da sede (shidô-bu) no bairro da Saúde, SP. 

 

Como eu o conhecia, fiquei muito surpresa com a ocorrência e procurei saber dos detalhes perguntando ao Ômori dojô-tyô, que pôde apenas me dizer que o kunrensei havia morrido asfixiado, com um saco plástico enfiado na cabeça.

 

«Por quê?», perguntei-lhe. O dojô-tyô meneou a cabeça com ar triste e não me respondeu.

 

Alguns anos depois, reencontrei Ômori no SUZA, por ocasião do intervalo do Encontro de Kumitê Estrangeiros. Sabia que a diabetes dele havia se agravado, mas não imaginava ver aquele kanbu, outrora robusto e enérgico, com vasto conhecimento do ensinamento e para quem eu havia servido de intérprete em inúmeras transmissões do seminário básico, quase irreconhecível na sua magreza, mal apoiado na bengala e usando óculos escuros.

 

Por momentos relutei em me aproximar, mas quando o fiz, percebí que ele mal enxergava e só conseguiu me reconhecer pela voz. Apertamos as mãos fortemente e ficamos alí em silêncio, apenas alguns minutos até o alto falante anunciar o fim do intervalo.

 

«Shinkai-san, genki de ne»(Fique bem, Shinkai)  sussurrou ele, apertando a minha mão, quando me despedí do amigo, pela última vez.

 

 

 

 

 

 


 

 
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